A Ayahuasca é uma bebida psicoativa usada na medicina tradicional em toda a região amazônica superior, com um forte poder indutor de espiritualidade e efeitos psicadélicos. Usualmente ingerida na forma de chá, proporciona uma gratificante sensação de bem estar e transcendência, bem como alterações da percepção, que se prolongam no tempo. Este estudo tem como objetivo determinar os mecanismos neuronais que são ativados pelo consumo de Ayahuasca e o envolvimento do sistema cerebral de recompensa nos estados espirituais induzidos pela substância. Embora a evidência científica que o comprova seja escassa, há indícios da existência de efeitos terapêuticos em estados de depressão, burn-out, luto, abuso de substâncias, trauma, entre outros.
Embora o foco deste estudo seja a compreensão da relação entre a ativação de redes cerebrais e a emergência de estados espirituais, é também nosso objectivo o estudo das alucinações provocadas pela Ayahuasca, que poderão ajudar na compreensão das alucinações provocadas por cegueira relacionada com a idade, doença frequente e sem cura, onde os doentes reportam alucinações semelhantes às induzidas pela Ayahuasca.
A Ayahuasca é uma decocção de diferentes plantas com um longo histórico de utilização pelos povos indígenas da Amazónia na sua medicina tradicional e em rituais religiosos. Ao longo do tempo sofreu várias alterações culturais e o seu uso foi sendo alastrado e divulgado através de países da América do Sul e mais recentemente Europa e América do Norte. Uma consequência desta expansão foi o aparecimento de novas formas de utilização, que por sua vez trouxeram novos potenciais terapêuticos, mas também novos riscos.
Tomada mais frequentemente na forma líquida, mas também em cápsulas, a Ayahuasca pode ser obtida pela mistura de várias plantas, mas sobretudo pela combinação da Banisteriopsis caapi (Spruce ex Griseb.) Morton, uma trepadeira da família Malpighiaceae, que contém alcalóides do grupo das beta-carbolinas e a Psychotria viridis Ruiz & Pav., um arbusto da família Rubiaceae, que contém a substância psicadélica N,N-dimetiltriptamina ou DMT. A nível molecular, o DMT atua em diferentes receptores, em particular nos receptores de serotonina.
Os estudos serão realizados em voluntários que nunca tomaram Ayahuasca e em tomadores experientes, saudáveis e com idades compreendidas entre os 18 e os 50 anos. Utilizaremos técnicas como questionários e técnicas de avaliação neuropsicológica, e de imagem RM e PET. Uma equipa multidisciplinar composta por médicos, psicólogos, farmacêuticos, biólogos e enfermeiros devidamente treinados, acompanhará o processo.